A REALIDADE É UM QUEBRA-CABEÇA UM POUCO MAIOR...

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domingo, 15 de junho de 2014

AMAR É BOM E FAZ BEM.


AMAR FAZ BEM 
AO CORAÇÃO 
À VIDA


                                                                                                                                                                                                          por Onésimo Remígio



Gostar é bom, amar é muito melhor. Amar é bom e faz bem. E muito. O amor, o sentimento mais exaltado por poetas, por cantores e por um inumerável exército de apaixonados, talvez seja o elixir da cura milagrosa: segundo especialistas, o bem estar que o amor provoca não é só psicológico, mas também físico. Amar é um remédio que não custa caro, é eficiente e depende da felicidade, pois ser feliz faz bem ao coração e fortalece o sistema imunológico. Claro que podemos ter ansiedade, taquicardia, sudorese, falta de vontade de alimentar-se, mas isso acontece por conta de reações químicas – isso mesmo, o amor é química: o cérebro produz em grande quantidade dois hormônios chamados dopamina e norepinefrina.


Tem dicionário que define o amor como o sentimento de gostar muito de outra pessoa ou coisa, de forma a querer e fazer o bem para essa pessoa, ser vivente ou mesmo coisa. No dicionário Aurélio, as definições esclarecem bem o sentido de amor: sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem; sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro, ou a uma causa; inclinação ditada por laços de família; inclinação sexual forte por outra pessoa; apego profundo a valor, coisa, ou animal...; devoção extrema...


Ou seja, o amor é um sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração. Do ponto de vista científico, o amor ativa no cérebro a produção das substâncias que dão uma sensação de conforto – o que é capaz de diminuir o negativismo diante da vida, trazendo alívio e segurança. Já do ponto de vista filosófico, a temática do amor é comum a muitos pensadores. Para eles, o amor é a base fundamental das relações humanas e da vida em sociedade. Uns sustentaram a existência do amor como valor positivo, humano, outros condenou o amor a uma realidade ilusória, e outros numa dimensão divina. Em resumo, em todas as eras, línguas e pátrias o homem refletiu sobre o amor.


Para o filósofo ateniense Platão (o amor ao bem e à beleza), o amor liberta o ser humano e o leva à verdade e lança uma ponte entre o universo sensível e o universo puramente inteligível. Para o egípcio Plotino (o amor é desejo inesgotável), o amor purifica e eleva o ser humano. No pensamento do africano Santo Agostinho (o amor é tudo), somente o amor é capaz de explicar a vida da alma e a sua possibilidade de se elevar ao conhecimento unitivo de Deus. Já Boaventura de Bagnoregio (o amor é a verdadeira sabedoria), o amor é a força que dá ao ser humano a capacidade de elevar-se a Deus, tornando possível uma verdadeira aproximação a Deus. E quando amamos, afirma Tomás de Aquino (amar a Deus para amar o próximo), amamos a Deus. 




Na concepção de Marsílio Ficino (o amor é furor divino), o amor tem uma dimensão cósmica e dá à alma humana a capacidade de unir-se a Deus. Para Baruch Spinoza (o amor é intelectual e gera alegria) o amor é o pleno conhecimento da verdade que faz o ser humano totalmente feliz. Para o suíço Jean-Jacques Rousseau o amor é filho da natureza e da liberdade, e para Friedrich Schleiermacher, filósofo alemão, o amor une o finito ao infinito. Já no pensamento de Arthur Schopenhauer, marcado por profundo pessimismo, o amor é poderoso e sabe enganar o ser humano, consegue iludi-lo, prometendo-lhe uma felicidade que jamais poderá se realizar.


E se pensadores disseram tanto sobre o amor, o que dizer de poetas, músicos e escritores. Camões, figura maior da poesia em língua portuguesa, definiu como poucos a dualidade e contradições desse sentimento: "Amor é fogo que arde sem se ver, / é ferida que dói, e não se sente, / é um contentamento descontente, /é dor que desatina sem doer". O amor não precisa de vozes consagradas para proclamá-lo, pois ele nasce no dia-a-dia das pessoas, às vezes fruto de um simples sorriso. Um poeta repentista, possivelmente Oliveira de Panelas, ou Pinto do Monteiro ou Antonio Pereira, “tirou” estes belos versos: “O amor é um parafuso / que quando na rosca cai, / só entra se for torcendo / porque batendo não vai, / e se enferrujar por dentro / pode quebrar mas não sai”. E para os amantes da música, o amor enche taças!


"O amor é um coquetel que
vira a cabeça de qualquer um".
O amor é um coquetel que, literalmente, “vira” a cabeça de qualquer um! A professora e psicóloga Stephanie Ortigue, da Syracuse University, de Nova Iorque, EE.UU.AA, divulgou uma pesquisa mostrando que o amor provoca nas pessoas uma sensação de bem-estar tão intensa, que é capaz de ativar a produção de serotonina, oxitocina, endorfina e vasopressina, substâncias importantes para ativar o bom-humor. Segundo ela, “o amor, de um modo geral, faz com que o nosso corpo libere determinadas substâncias químicas relacionadas ao bem-estar, que desencadeiam reações físicas específicas e benéficas à saúde”.


Ao tratar de saúde e bem-estar (no site saude.pt.msn.com), a Dra.  Doroteia Silva , médica cardiologista, fala (em entrevista a Carla Mateus), que a relação entre a saúde do coração e o amor é íntima – tal como se quer quando se vive um romance. Quando amamos, quando estamos apaixonados, também nos sentimos mais confiantes e dispostos. Na mesma reportagem, peritos dizem que “as pessoas que amam, que possuem uma vida harmoniosa e cercada de amigos, vivem mais e melhor”. É o que explica a psicóloga Filomena Pizarro Sousa: “a experiência de vivenciar amor, sendo este uma emoção positiva, parece ter um efeito preventivo na saúde. (...) Por outro lado, segundo estudos mais recentes, as próprias emoções positivas parecem ter um efeito direto sobre a saúde, nomeadamente fortalecendo o sistema imunitário”.


Assim, de “acordo com a ciência, não se trata de uma pílula mágica, mas o amor tem a capacidade de reduzir o stress, a ansiedade e a depressão – três importantes fatores de risco para a saúde cardiovascular –, ao mesmo tempo que fortalece o coração. A sensação gerada pela atitude amorosa é particularmente benéfica para o coração, pois o organismo liberta hormonas – as chamadas endorfinas – que proporcionam sensação de bem-estar, prazer e alegria”, o que diminui o risco de depressão e controla a ansiedade e o stress, os grandes vilões que causam doenças cardiovasculares.


Uma pesquisa realizada pelo Hamad Medical Corporation – Heart Hospital, localizado de Boston, nos EE.UU.AA, “demonstrou que homens e mulheres viúvos ou solteiros acima dos 60 anos possuem um maior risco de sofrerem algum problema cardíaco. A investigação apontou também que as pessoas casadas, ou que se encontram numa relação estável, recuperam até três vezes mais rápido do que os solteiros ou viúvos”. Na mesma temática, a Universidade da Carolina do Norte, também nos Estados Unidos, investigadores apuraram que “um abraço de alguém que se ama é melhor do que qualquer comprimido para a hipertensão. Este gesto, tão simples, ajuda a tensão arterial a entrar nos níveis considerados saudáveis sem que seja necessário recorrer a um medicamento”.


O amor ainda pode ser uma forte de longevidade: quem ama e é amado, vive mais e melhor. O sexo, por sua vez, apresenta um efeito protetor para o coração. Além de ser um exercício de intensidade moderada, “a atividade sexual conjugal regular também traz uma série de benefícios, como a diminuição do stress físico e emocional, a estimulação do sistema imunológico e a redução do risco de doenças cardíacas”, sublinha a cardiologista Doroteia Silva. E, pela ciência, sempre se ganha com amor, pois ele é uma via de mão dupla: ganha ao se dar e ao se receber.


O amor, como todo remédio, pode ter reações adversas e contraindicações, no caso, a desilusão amorosa. Quem perde uma pessoa querida ou termina um relacionamento pode ter a chamada síndrome do coração partido ou miocardiopatia de Takotsubo, descrita pela primeira vez por médicos japoneses, no início dos anos 1990. É um problema desencadeado por um stress intenso físico ou emocional, que leva ao aparecimento de sintomas semelhantes ao enfarte agudo do miocárdio: dor no peito, falta de ar ou desmaio, podendo trazer sérios riscos à saúde física.


É o que explica o médico e diretor científico da Associação Mineira de Medicina Psicossomática, Dr. Geraldo Caldeira (em www.canalminassaude.com.br), sobre a possibilidade de uma pessoa adoecer pelos excessos com esse sentimento, o amor. Há pessoas que, após términos de relacionamentos, ficam tão abaladas que isso se manifesta em alguns problemas também físicos. Para essa situação, pode-se dizer, conforme Caldeira, que se trata de um adoecimento psicossomático. “A vivência depressiva diminui a ação do sistema imunológico e dos neurotransmissores do humor. Com isto, o indivíduo pode ficar vulnerável a doenças ou sofrer o que se chama de ‘depressão somatorforme’ com várias queixas corporais, às vezes sérias”, caracteriza.


A boa notícia para quem sofrer esse “mal do amor”, segundo Doroteia Silva, é que, na maioria dos casos, a evolução é reversível e com recuperação completa da função cardíaca em poucas semanas. Os sintomas devem ser levados a sério e “para se confirmar este diagnóstico é preciso excluir sempre as causas mais comuns de dor no peito, nomeadamente, o enfarto agudo do miocárdio por oclusão de uma artéria coronária, que tem um tratamento absolutamente diferente”. Mas no final, cura-se o mal do amor amando, amando muito!


Existem vários tipos de amor: o amor entre casais apaixonados, o amor entre pais e filhos, o amor de irmãos, o amor entre amigos, o amor pelos animais de estimação e muitos outros. E todos eles fazem bem ao coração. Amigos, família, colegas e a comunidade a que as pessoas pertencem e com/partilham de alguma forma de amor ou intimidade protegem contra doenças infeciosas e retardam os efeitos do envelhecimento. Para Filomena Pizarro Sousa, “tirar um bocadinho todos os dias para verdadeiramente estar e saborear da companhia daqueles que nos são queridos fortalece os laços de amor, ternura, amizade, satisfaz as nossas necessidades sociais e afetivas, promove a qualidade de vida, a sensação de bem-estar, a saúde do coração e do corpo em geral”. No final, como diz um hino cristão: O amor é tudo! Feliz é quem ama!


"O amor faz transformações químicas no corpo. Ele provoca a liberação de hormônios que dão energia, disposição e a sensação de alegria", revela o psicólogo Ailton Amélio da Silva (em mdemulher.abril.com.br/bem-estar), doutor em psicologia e professor de Relacionamentos Amorosos e Comunicação na USP. Segundo o especialista, o amor correspondido deixa a pessoa: mais bonita; mais motivada; cheia de energia; com objetivos na vida; calma, relaxada e otimista.


O amor faz bem ao coração e ao corpo porque a pessoa que ama tem mais autoestima e cuida mais de si mesma, pratica exercícios físicos, e com isso evita doenças cardiovasculares. Também se preocupa com a saúde, vai ao médico regularmente e tem motivação para continuar uma dieta, por exemplo. Tem mais disposição para sair, passear, namorar. Pensa na aparência, cuida do cabelo, usa maquiagem.


Pequenas e grandes coisas podem fazer o amor ser duradouro, para sempre ou “eterno enquanto dure”, como diz Vinicius de Moraes. Sem dúvida, se não for uma aventura, o melhor é ter uma pessoa com a qual se sinta bem, alguém com quem tenha prazer de conversar. O casal deve fazer o possível (e o impossível, por que não?) para manter o interesse entre ambos aceso, em alta. E que falem de sexo e invistam em seu sentimento, sem medo de ser feliz. 



Para dar certo, nada de cultivar amarguras, ideias negativas, incertezas e dúvidas, por isso perguntar, conversar, falar sobre sentimentos, trocar carinhos é peça chave. Não se acomodar, para que a relação não fique chata é fundamental. Mesmo quando se investe num sentimento como o amor, devemos lembrar que somos humanos e falíveis... E isso pode levar a tentar tudo de novo ou a perdoar um erro da pessoa amada.





Também existem pequenos segredos que ajudam o amor a persistir no coração de um casal: buscar sempre ter uma admiração profunda pela pessoa amada; descobrir e redescobrir coisas novas entre ambos; criar e estimular uma saudável cumplicidade em quase tudo, mesmo que pareça fútil; ter ciúmes sem cair no exagero; fazer planos e dividir responsabilidades; e, claro, aposte no amor mais sexo. Se dividem um mesmo espaço, responsabilidades e a mesma cama, é nesta última que começam e terminam o dia, com amor.






Todo peito é carente e vulnerável
Mesmo tendo o orgulho como escudo
Vez em quando a saudade arromba tudo
Por dispor de um projétil indefensável
Não há olho que seja impermeável
Ás comportas da sensibilidade
Nem distância mantida como grade
Que segure um desejo apaixonado
Mesmo o peito mais forte e mais blindado
Não resiste ao disparo da saudade



Zé Adalberto do Caroço do Juá, poeta popular







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